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  • Foto do escritorLeite Materno

«É que aqueles preconceitos e mentiras que sempre ouvimos acabam por nos condicionar demasiado...»



Leiria, 6 de Maio de 2010

O Jaime é o nosso terceiro filho e, já antes de engravidarmos, havíamos decidido que ele iria ser amamentado, custasse o que custasse. Depois das duas experiências anteriores em que o primeiro filho fora amamentado até aos cinco meses, mas sempre com um suplemento de leite artificial, e em que o segundo nem sequer pegou na mama, estávamos determinados a fazer tudo, a criar todas as condições para que o eu e o nosso bebé pudéssemos desfrutar dessa riqueza imensa de dar e receber o leite materno.


O Jaime saiu da sala de partos já a chuchar na mãozinha e quando mo puseram na mama, agarrou-a logo e mamou muito, com muita força – nunca esquecerei esses momentos!

A nossa adaptação à maminha foi fácil na maternidade, mas o Jaime ficou com icterícia e demorou três semanas a recuperar o peso de nascença. Passámos por uma imensa preocupação, apesar de o seu estado de saúde ser bom, e, tal como acontecera com o nosso primeiro filho, estivemos quase a cair na tentação de voltar a introduzir um suplemento de leite artificial.

Só que desta vez tivemos o apoio inestimável das enfermeiras da Maternidade Bissaya Barreto, de uma grande amiga e do nosso pediatra, que nos deram muita confiança. Graças a Deus, conseguimos ter força e coragem para não desistir. Apesar da preocupação com o peso do bebé, a nossa vontade era tanta e sabíamos tão o bem o que era melhor para o nosso filho que acabámos por conseguir vencer as angústias, os preconceitos, as mentiras e também algumas pressões que giraram à nossa volta.

Durante os primeiros três meses, a amamentação do Jaime foi sempre uma fonte de stresse para mim, porque ele mamava de duas em duas horas, quer de dia e quer de noite, e eu andava muito cansada e com muitas dores: o parto foi, pela terceira vez, de cesariana e havia a casa e os outros dois filhotes para cuidar. Depois andava sempre preocupada com o peso do bebé. É que aqueles preconceitos e mentiras que sempre ouvimos acabam por nos condicionar demasiado...

Durante a gravidez e mesmo depois de o Jaime nascer, eu li muito sobre a amamentação, para me sentir devidamente informada e preparada diante das dificuldades (sem fazer publicidade, recomendo os artigos da revista “Pais & Filhos” e os livros “Mãe Pela Primeira Vez”, de Gro Nylander, e “O Grande Livro do Bebé”, de Mário Cordeiro). E quando as inevitáveis dificuldades surgiram, pus o orgulho de lado e pedi ajuda àquela minha grande amiga. Percebi que eram dificuldades habituais e comuns à maioria das mulheres, que a amamentação é um processo natural mas que também tem que ser aprendido pela mãe e pelo filho... O certo é que tudo isso fez com que eu me mantivesse firme e nunca desistisse de amamentar!

Tenho falado sempre em mim, mas a verdade é que a amamentação do Jaime não foi feita só pela mãe: sem o pai, o Jaime teria provavelmente ficado sem “a sua maminha”. O meu marido foi o companheiro incansável de cada mamada, dando o apoio que fosse necessário, tantas vezes com umas festinhas que me serenavam e ajudavam o leite a sair. Depois da mamada, era ele quem punha o Jaime a arrotar e a dormir, para eu poder descansar.

A partir dos três meses, a amamentação passou a ser simples e natural. O Jaime engordava e crescia a olhos vistos, um bebé lindo e saudável, activo, de olhar vivo e sorriso feliz!

Fiquei em casa com o Jaime até aos oito meses. E ele foi alimentado exclusivamente a leite materno até aos seis meses. A introdução da alimentação sólida foi muito fácil e natural. Aos poucos, fomos ambos habituando-nos a novos hábitos e horários, de modo que quando eu retomei o trabalho, pudemos manter a amamentação sem quaisquer problemas.


O Jaime mamou até querer. Nunca tive que retirar-lhe qualquer mamada do horário diário, porque foi sempre ele a escolher aquela mamada que já não queria. Felizmente, quer o pediatra do Jaime, quer a minha obstetra apoiaram que a amamentação do Jaime se prolongasse para além do ano de idade e, assim, ele mamou até aos dezoito meses!

Hoje, perto de completar os dois anos, é um bebé lindo e adorável, forte, cheio de energia, meigo e simpático, que come de tudo e aceitou muito bem a nossa comida. Estou em crer que a alimentação variada e muito rica em fruta e legumes que fiz durante a amamentação o preparou para os novos sabores da alimentação sólida.

Eis, agora, os tais preconceitos e mentiras que estamos sempre a ouvir e que tantas vezes são motivo para que as mães deixem de amamentar os seus bebés:

1) “se calhar o meu leite não presta ou está a ficar fraco” – eis o grande disparate;

2) “acho que o meu leite já não é suficiente” – o pediatra do Jaime ria-se sempre na minha cara quando eu lhe perguntava isto, mesmo quando o Jaime tinha quinze meses;

3) “dar de mamar é um grande sacrifício para as mulheres” – sacrifício maior e uma enorme trabalheira é ter que comprar latas e latas de leite artificial, biberões, tetinas, esterilizador, ferver água, fazer o leite, esterilizar biberões, etc.; haverá lá coisa melhor do que ter o nosso leite pronto a oferecer ao nosso bebé, à hora que ele quiser e onde ele quiser, sem quaisquer complicações?;

4) “a dar de mamar a mãe perde a liberdade toda, porque está presa ao bebé” – eu pergunto: haverá maior liberdade do que poder escolher e dar ao nosso filho aquilo que temos de melhor e que contribuirá decisivamente para a sua saúde física e mental?;

5) “os bebés amamentados ao peito são menos gordinhos do que os outros” – no nosso caso foi precisamente o contrário, porque, apesar de os irmãos serem bastante crescidos, o Jaime foi sempre o mais alto e pesado dos três e nunca bebeu leite artificial;

6) “os bebés devem deixar de mamar ao ano de idade, para não ganharem vícios” – esta, então, nem merece comentários!!;

7) “a amamentação é muito desgastante para a mãe e estraga o peito” – concordo que de início há um período de adaptação que, para algumas mães, não é muito fácil, mas é de apenas umas semanas; o que é isso numa vida inteira? E o que é isso quando comparado com todas as vantagens que a amamentação tem para a recuperação física e para a saúde da mãe após o parto? Eu perdi todo o peso da gravidez em menos de seis meses! E quanto ao peito “estragado”, o meu ficou na mesma e espero que alguém me demonstre que ele permanece firme até aos 100 anos...


Tenho e terei eternas saudades de “dar a maminha” ao Jaime: de o ter juntinho a mim; de ter a sua mãozinha em cima da minha mama e a outra a agarrar o meu polegar sob mama; de ele adormecer sobre o meu peito; de durante a noite acordarmos ao mesmo tempo para a mamada; de ele pedir a maminha; de ter a mama a jorrar leite...

Enquanto amamentei, senti-me totalmente MÃE.

A todos, um abraço amigo,

Maria Ana Toledo Rolla

(39 anos, casada com o Bruno, mãe do António, do João e do Jaime, residente em Leiria, jurista)
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